quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Fracasso
Sou o mesmo que, não te influencia, mas aconselha. Ainda assim não a sua vontade, não a sua mente, mas aquela centelha eterna, sua alma imortal, que foi expirada por nosso pai junto com todas as outras naquele momento antigo, naquele dia de luz.
Não posso fazer muita coisa, não diretamente, não decisivamente. Por que aqui estou, mas ainda assim não estou.
sábado, 16 de outubro de 2010
A chave de Esther.
Havia chovido muito há algumas semanas, mas o mago Audus só pôde conjurar um feitiço para desviar a chuva do casarão tarde demais, quando a água já descia pelas escadas para o térreo em cascatas. A mobília e boa parte dos papiros e livros da biblioteca, antiqüíssimos e inestimáveis na maioria, se molharam. Julian foi incumbido pelo mago a secá-los cuidadosamente no porão, estendendo-os num varalzinho perto da antiga caldeira à lenha.
Tetsuo
A sirene soou. Potente e aguda como uma wakizashi, seu som atravessou o peito da cidade.
Possessão
Possessão
O grito estridente e maquiavélico ecoava dentro da casa. Era
uma gargalhada profunda, entrecortada, esganiçada, que parecia vir de todos os
lugares. Um som doente, como se ela engasga-se com sua própria saliva ou que sua
garganta estivesse cheia de feridas.
Emerson procura, os olhos esbugalhados, forçando a visão no
escuro, a origem daquilo, mesmo sabendo que não queria encontrar.
_Filho da puta medroso! Abra essa porta! _ a casa toda tremia,
os moveis balançavam, alguns pratos caiam.
A cada grito daquela voz diabólica Emerson sentia um
calafrio, um relâmpago que nasce nas entranhas e se espalha pelo seu corpo como
um choque violento. Seu estomago contraia, havia a ânsia de vomitar, enquanto
sua cabeça parecia que ia explodir a cada batida de seu coração.
_Vai Embora! Por favor! Agora!!!! Me deixa em paz! _ Emerson tentou calcular seu tom de voz a fim
de imprimir o máximo de autoridade, mas se perguntava o quanto de seu desespero
poderia transparecer.
_Háaaa...Há...Há... _ A única resposta que Emerson obteve
foi essa. Uma gargalhada tão tenebrosa que parecia que uma brecha do inferno se
abriu para engoli-lo.
Saber que aquela voz, tão inumana, tão disforme, ainda
reservava algo conhecido, intimo, era aterrador. Emerson se perguntava se teria
coragem de descer o martelo com toda a força na cabeça de Isabelle. Naquele
momento todo o amor que sentiu por ela desapareceu numa nuvem de pó que caia das
telhas quando a casa tremia, até nada ter restado desse amor, só medo. Ou
talvez ele ainda amasse Isabelle, mas o que havia dela naquele corpo
destroçado?
Esta história deveria ter um começo, que poderia bem ser
este, mas seria uma história muito curta. Então, quando a mente de Emerson
busca em seus pensamentos uma razão, um motivo, e tenta voltar até o primeiro
momento, o primeiro instante em que deveria ter percebido algo diferente, o
momento em que deveria ter agido... o acompanhamos. Para nos deliciarmos mais
plenamente de seu desespero. Eu gosto disso.
Poucas semanas serão necessárias regredirmos. Até um momento
em que Emerson vê novamente o rosto de Isabele, como ele deveria ser.
Ela o observava lixar um móvel, assoprar o pó de madeira e
estudar o reflexo da luz nele. Um criado mudo que ele mesmo fabrico. Achava
esse um ótimo hobby, e melhor ainda, conseguia, ás vezes algum dinheiro fazendo
móveis pequenos para conhecidos ou parentes. É claro, às vezes sentia tanta
satisfação fazendo isso, um móvel único, não personalizado, mas idealizado, que
sentia vontade de ficar com o móvel para ele, e chegou a ficar com alguns
mesmo. Pedia desculpas para a pessoa que o havia encomendado, prometia fazê-lo
(novamente) o mais breve possível, e prometia também a si mesmo tentar não
caprichar muito, não por maldade, só não queria outro criado-mudo.
Isabelle o observava com o olhos estranhamente opacos,
olheiras escuras e a pele de uma cor amarela bem esquisita.
_Está se sentindo bem, amor? Está gripada?
_Ahn... Não... Acho que não. Eu dormi mal. Tive um sonho
horrível. Não, foi um pesadelo, foi horrível.
_Que estranho, Isabelle! Você nunca reclamou disso antes.
Aliás, eu nem sabia que você sonhava. _ disse, tentando brincar _ Tente dormir
um pouco, pode ser aqui mesmo. Deixe-me arrumar a minha cama para você.
_Sabia!...Sempre tentando me levar para a cama, não é ?!...
Mas não se preocupe. Não vou dormir. Tenho medo de dormir.
_O que houve, Isabele? Conte para mim...
Isabelle contou seu último sonho para Emerson, disse que não
eram repetitivos, que toda noite era um sonho diferente. Ele inicialmente achou
que seria mais um sonho ruim qualquer, algo fútil e sem graça, um grito dos
hormônios de uma mulher por um homem, como às vezes pode acontecer. Mas
conforme Isabelle ia falando, ele sentiu nos pêlos da nuca um arrepio gélido,
tanto quanto o suor que escorria-lhe pelas costas.
Horrível. Se não apenas pela história, mas também pela
sensações que Isabelle passava. Os olhos esbugalhados e atônitos dela como se
estivessem relembrando não apenas um sonho, mas algo que realmente acontecera.
A sua mão quando descrevia a faca que empunhava, o movimento forte e repetitivo
como se mutilasse o corpo de alguém. Enquanto ela falava, saliva se acumulava
nos cantos de sua boca tamanha era a velocidade com que falava, sem pausa. O
movimento de seus dedos, quando descreveu ter as mãos empapadas de um sangue
viscoso e pegajoso.
Emerson tentou esconder o quanto ficou impressionado, não
ajudaria nada se ela percebesse que ele também achara aquilo horrível e não uma
bobagem qualquer. E a acalmou da melhor maneira que pode.
Mas aquilo foi se repetindo. Toda manhã, às vezes o sol nem
aparecia completamente e ela já vinha à sua porta, apressada, contar o sonho
que tivera na noite que acabara de terminar. Eram tenebrosos. Emerson se pegara
várias vezes fazendo uma força indescritível para focar em outra coisa, um
móvel, uma programa de televisão, para tirar da mente as imagens vívidas que
Isabelle implantara em sua mente. Um dia quase chegou a dizer pra ela:
_Não durma mais. Apenas não durma que esses sonhos não vão
mais acontecer! _ coisa que percebeu oviamente ser impossível antes mesmo de
falar, e se conteve.
_Vamos pra minha casa. _ disse Isabelle neste dia _ A gente
assiste a um filme. Não me deixe sozinha hoje.
Emerson tentou pensar em uma boa desculpa para não ir.
_Juntos ... Mesmo!!!_ frisou Isabelle quando sentiu a
indecisão dele. E funcionou.
A casa de Isabele ficava num lugar afastado. Entre uma linha
férrea e uma mata sobrevivente. A casa era antiga e muito pequena,
claustrofóbica.
O filme que assisitiram poderia ser qualquer um, afinal,
Emerson nem reparou muito e fingiu estar com sono antes da hora só para ir para
cama.
Isabelle quase chorou pedindo para ficarem mais tempo
acordados, mas foram dormir. Eles fizeram amor por algum tempo. Fora a primeira
vez deles e depois disso Isabelle dormiu como se não dormisse há tempos.
Já madrugada, Emerson foi ao banheiro e, quando voltou, com
a luz acesa, viu no corpo nu de Isabelle marcas roxas, vermelhas, hematomas de
vários tipos e cortes na pele. Ele se aproximou e, vendo mais de perto, eles
eram piores do que pareciam.
_Mas com que tipo de louca eu estou lidando? _ disse ele,
sabendo que ela não iria escutar. _ Amanhã preciso falar sério com ela! Vai procurar
um médico, um psiquiatra!
Emerson deitou novamente preocupado ao lado de Isabelle, as
imagens dos sonhos dela agora estavam vivas na sua mente também.
Umas três horas da manhã Emerson acordou novamente. Isabelle
não estava na cama. A procurou em toda a casa, mas ela não estava.
Ouviu algo lá fora. Seria ela? Procurou suas roupas. Não
podia ir para fora assim. Onde estão esses malditos sapatos? Olhou embaixo da
cama. Havia, além dos sapatos, algo estranho lá. Um embrulho, um enorme monte
sujo e mal amarrado. Emerson o puxou e quando o abriu, caiu para trás assustado
e começou a vomitar quase que imediatamente. Havia no saco roupas, todas rasgadas
e sujas de sangue, havia facas, martelo,
a parte metálica de uma foice, tudo num enorme monte vermelho de sangue e
germes, que exalavam um cheiro que...que não deveria existir.
Outro som lá fora. Foi um grito? Segurando a ânsiad de
vômito, pegou o martelo e correu para fora. A escuridão parecia uma parede
sólida, só sabia que não estava flutuando num limbo de trevas porque sentia
seus pés pisarem as pedras enquanto seguia os gritos de uma criança e uma
risada doentia.
Quando chegou perto o suficiente o que viu o deixou
perplexo. Isabelle, o corpo contorcido, como uma fera que arquejava, tinha seus
olhos vermelhos e a saliva escorria de sua boca em grande profusão. Ela
arrastava, segurando pelos pés, uma criança que deixava com as mãos um rastro
na terra e algumas unhas enquanto gritava e esperneava.
_Isabelle!!!_ Gritou .
A criatura, surpreendida talvez, mirou seus olhos vermelhos
na direção dele enquanto afrouxava a mão que carregava a criança. Quando a
criança conseguiu se libertar e rapidamente sumiu na escuridão, a criatura,
refeita, vociferou:
_Verme!!! Volte aqui, verme!! _ gritava a besta enquanto freneticamente
vasculhava a escuridão, mas quando percebeu que a perdeu a criança, virou-se
para Emerson que ainda estava petrificado:
_Idiota!!! Só precisava de mais um sacrifício!!! Só mais
um!!! _ e mostrando os dentes num sorriso bestial, grunhiu _ Por outro lado,
sangue é sangue. PODE SER O SEU!!!
Emerson conseguiu sair da paralisia e correu o mais que pode
para a casa de Isabelle, que infelizmente ela deveria conhecer melhor que ele.
Logo quando entrou fechou a porta e a casa tremeu como se um carro houve se
chocado contra a porta que fechara atráss dele. Fechou as janelas também. E
depois apenas silêncio.
Até que um grito estridente e maquiavélico ecoou dentro da
casa... Dentro da casa!...
Neste ponto a história já é conhecida, não obstante não
poderia retomar daí. Isto deixaria a história longa demais. Vou passar deste
ponto em que Emerson está aparentemente indefeso, como um cordeiro ante o
chacal, e vou para um momento a depois... Um ponto em que sinto um prazer...
especial.
Atrás de Emerson pode-se ver que a pequena casa está
destroçada. Um enorme buraco no teto, de onde sai uma fumaça cinza, denuncia a
destruição que haveria lá dentro.
Ele está agachado, as mãos suspensas para evitar o sangue
que toma todo o seu corpo. Uma repulsa involuntária.
De frente para ele está quem costumava ser Isabelle.
Amarrada nos trilhos do trem. Emerson está ali, velando a futura morta para se
certificar que isso ocorrerá. A mulher engasga com seu próprio sangue. Quando
tenta respirar mais profundamente bolhas vermelhas brotam de um buraco no seu
peito e a tosse joga alto um spray de sangue quente. O trem está quase
chegando. Está quase na hora.
_Viado maldito!!! Me solte !!!
Emerson passara as últimas hora nesta posição. De inicio
quase se pegara cedendo às suplicas do demônio quando, em desespero fingia ser
Isabelle, lhe dizendo palavras de amor e suplicando perdão. Só para, quando
percebia que não estava enganando, voltar a vociferar injurias e palavrões, o
que de certa forma até tranqüilizava Emerson. Afinal, isso deixava mais claro
que não restava nada de Isabelle ali naquele corpo.
O trem foi pontual. Às 04:50 apareceu no horizonte. O
demônio ainda estava vivo.
_Cretino miserável!!! A criança fugiu! _ Emerson se levantou
e se afastou, quando percebeu a vibração do trem chegando perto.
_Sim! A criança fugiu! E por Deus... Você pagará pelo que
fez com Isabelle! Vá para o inferno, besta!
A criatura olhou para o trem que se aproximava e soltou uma
gargalhada feroz.
_Criatura inútil! Não haverá o sacrifício da criança! Mas
haverá um sacrifício!
_O que você está dizendo? Só você vai morrer aqui hoje,
demônio asqueroso!
_EU ?!? Isabelle será o sacrifico!!! Será uma honra pra ela!
E quando este corpo for despedaçado meu mestre terá pago o preço e terá
permissão para sair do inferno e ele tomará o corpo da alma vivente mais
próxima!
Eu achava que seria Isabelle, seu idiota!!! Mas olhe ao
redor, só há você aqui! Corra!!! Corra !!! Corraaaaa !!!
E riu , a criatura riu e sua risada ecoou! Ela olhava para o
trem a poucos metros e se deliciava com cada momento. Até que o trem às 04:53
passou por sobre o corpo daquela que fora Isabelle.
Emerson esta a pouquíssimos metros dali. É incrível a
fragilidade do ser humano, ele só conseguiu correr vinte passos depois que
percebeu o quanto estava ferrado! E foi nesse ponto que eu tomei seu corpo. Meu
corpo.
Hoje, o Emerson é só uma voz que às vezes fala na minha
cabeça e mas isso com um Dipirona ou um drink. É hilariante ver como ele chora
feito uma criança, esse mané.
E eu fiz uma grande fogueira com aquele monte de moveis
idiotas dele.
O veneno que nos separou
Silêncio. Frio. Muito frio. E era só isso. Não... Havia mais... Havia uns lampejos de luz...
E foi assim por algum tempo. Ela não estava em lugar nenhum e por algum tempo também não pensou sobre isso.
A velha do carvalho
Flerte
A estação cheia, mas ao mesmo tempo não poderia estar mais vazia. Muita gente, alheias e submersas numa dimensão paralela em que só elas mesmas existiam de cada vez. Admito, eu era assim. Ou sou. Saí,quem sabe momentaneamente, dessa indiferença irritante apenas por ela.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Apenas mais um caso de amor.
Foi o ultimo dia no curso pré-vestibular que fazia. Estava contente e ansioso para ver se seu esforço iria render bons frutos.
A dançarina.
Pelas enormes janelas daquela torre se podia ver o clarão e as colunas de fumaça do incêndio que ia corroendo a cidade. O enorme salão de mármore branco estava repleto de soldados. Eles bebiam, comiam e se divertiam à custa do reino que acabavam de tomar.
Sonia
A noiva.
Uma garçonete se aproximou. Tinha um belo rosto, apesar de amarrotado e envelhecido prematuramente. O excesso de maquiagem denunciava o desespero com que ela tentava se agarrar aos restos de sua juventude.
_ Só um whisky, por favor.