terça-feira, 12 de outubro de 2010

A noiva.

Ele chegou e antes de apagarem-se as luzes procurou uma mesa vazia, encontrou uma no fundo do salão. Havia uma névoa persistente devido aos cigarros que ali se fumava indiscriminadamente.
Uma garçonete se aproximou. Tinha um belo rosto, apesar de amarrotado e envelhecido prematuramente. O excesso de maquiagem denunciava o desespero com que ela tentava se agarrar aos restos de sua juventude.
_ Só um whisky, por favor.

A garçonete fez uma quase imperceptível careta, ela sentia nojo daquele lugar, daqueles homens, da sua vida, e se perdeu na bruma de nicotina para logo depois reaparecer com um copo que colocou ruidosamente na mesa.
Um a luz forte se acendeu em direção ao palco. Uma mulher saiu detrás da cortina e uma música oriental começou a tocar.

A dançarina, talvez a única mulher bonita daquele lugar dançava lenta e provocante no palco. Conforme a música tocava ela ia balançando o corpo no mesmo ritmo. De tempos em tempos ela tirava um dos véus de sua fantasia e atirava aos homens das mesas próximas. Eles cheiravam o pano e depois os guardavam nos bolsos. Não sabiam que ao final da apresentação teriam que devolver os véus ao segurança gordo e mal-encarado.
A dançarina desceu do palco e o facho de luz a acompanhou. Ela se deitou na primeira mesa e, mantendo as mãos para cima em movimentos circulares, deixou o ventre exposto ao homem que estava sentado ali com olhar bovino. Enquanto ela estava estendida na sua mesa ele tirou uma nota da carteira e colocou no fino fio que circundava sua cintura. Ela cobriu a cara dele com um dos lenços e foi para a próxima mesa onde recebeu mais algumas notas. O dinheiro era colocado nas mais diversas partes da rroupa dela, sempre com uma passada displicente de mão no seu corpo.
Quando ela chegou na ultima mesa, havia apenas um homem de braços cruzados e olhar duro. Quando o facho de luz iluminou seu rosto, iluminou também as lágrimas que desciam silenciosas de seus olhos. A dançarina parou, repentinamente, quando reconheceu o homem. Seus braços instintivamente cobriam seu corpo praticamente nu.
O homem sem falar nenhuma palavra retirou lentamente uma aliança dourada do dedo e a colocou dentro do copo de uísque junto com uma nota de 50 paus. Ele então se levantou, e sem pressa alguma saiu. O facho de luz o acompanhou até chegar à porta.
A dançarina na escuridão do salão, rezou com todas as forças para que a luz não se voltasse para ela.

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